Capítulo 2
2
Passamos a primeira noite arrumando o equipamento.
Câmeras de visão noturna, equipamento para
registrar a temperatura, microfones, etc; nós os arrumamos nos locais dos
rumores estranhos e lugares onde espíritos eram vistos com mais freqüência. De
qualquer forma, como não tínhamos cabo suficiente (Me refiro às extensões
necessárias ao equipamento) para cobrir todo o complexo da escola, deixamos as
máquinas nos diversos locais para tirar fotos e gravar sons, por isso não
tivemos escolha a não ser checar um por um para examinar na sala de reuniões. Como
sempre, a preparação do trabalho foi bem problemática; o posto de manutenção
que arrumamos também deu trabalho; rapidamente me cansei dele.
Quando terminamos o trabalho e entramos, já era
por volta de três da manhã.
Ayako, que não nos ajudou, tinha entrado bem
antes e já estava aconchegada em lençóis na sala de trabalho. Mesmo quando eu
entrei na sala, ela não levantou. Apesar disso, eu troquei de roupa rapidamente
e mergulhei abaixo dos lençóis frios.
Depois disso, eu tive um sonho inconcebível.
Eu estava andando na escola à noite.
Salas escuras; corredores escuros. Não havia uma
alma à vista; era um complexo escolar em completo silêncio. Eu não sabia onde
estava. Estava um breu.
Eu senti que tinha alguma coisa e estudei o
ambiente ao meu redor. Notei uma porta à minha frente.
Instintivamente, eu abri a porta. Uma brisa
fresca me golpeou. Era o telhado.
Examinando o telhado, vi uma figura num dos lados.
“Quem está aí?”
Eu juntei as palavras questionadoras; ele virou a
cabeça.
Era um rapaz com mais ou menos a minha idade. Ele
não era alto, e parecia vulnerável. Ele me encarou com olhos sem vida; sua
linha de visão voltou a posição que estava para olhar além do telhado.
Ele segurou o corrimão, e olhou, imóvel, para o
chão.
“O que você está fazendo?”
Eu andei para o lado dele e perguntei. Ele
sussurrou em resposta.
“Estou olhando…”
Para o meu “olhando o quê?” ele não deu resposta.
Eu segui sua linha de visão e olhei. Ele continuou a olhar, imóvel, para o
complexo da escola. Por algum tempo, nós dois, juntos, olhamos o complexo da
escola.
Escuro, janelas pretas. Podíamos ver algo branco
flutuando na parte de dentro.
“O quê?” Eu pensei, enquanto meus olhos encarando
aquela coisa. Luzes brancas. Elas passavam pela janela com facilidade e
flutuavam por ali. Elas eram redondas, arrastando uma calda muito longa. Elas
pareciam não ter peso; as luzes brancas
pareciam fluir.
Assim que pensei nisso, luzes brancas também
apareceram no andar de baixo. Olhando além, elas também estavam no andar
seguinte. Elas estavam na janela seguinte e na janela depois dessa também. Virando
para olhar para trás, elas também estavam no campo.
Num instante a escola estava cheia de espíritos. Deixando
uma calda de luz branca, eles voavam por todo o lugar. Eles também estavam ao
meu redor. Ele parecia estar mais sério.
“Você está… olhando para isso?” Eu perguntei ao
garoto silencioso que observava
Ele assentiu. Um leve sorriso apareceu no canto
de seus lábios.
“Você não está com medo?”
“Eu estou muito feliz.”
“Feliz? Por causa desse tipo de coisa?”
Mas aqueles eram espíritos! Como podia estar
feliz com este tipo de cenário?
Ele me encarou de volta com um sorriso satisfeito.
“Extremamente feliz.”
Mas, aqueles eram…
De repente sua expressão foi escondida por uma
sombra escura. Ele olhava para mim constantemente, lábios separados. Esses
olhos constantes reluziam de uma forma radiante e sombria.
Ele estava sorrindo. Os cantos de seus lábios se
ergueram. Era um sorriso sinistro.
“Eu estou extremamente feliz. Não há sentimento
melhor que esse.”
Quem é você?
Quem, exatamente, é você?
De repente eu estava acordada.
Eu sentei, ao meu redor tudo ainda estava escuro.
Eu podia ouvir Ayako respirando suavemente.
Eu olhei para o relógio perto do meu travesseiro.
Eu não tinha dormido nem dez minutos.
O quê? O que diabos foi aquele sonho?
Eu tentei lembrar do rosto do garoto. Era um
rosto que eu nunca tinha visto antes. De qualquer forma, não era uma pessoa que
eu conhecesse.
“Que estranho…”
Eu afofei meu travesseiro, e deitei mais uma vez.
Dessa vez, meu sono não foi perturbado.
3
Ainda exaustas da noite anterior, fomos acordadas
por alguém de forma rude, cedo de manhã.
Grunhindo, eu abri a porta. Do lado de fora da
porta, estavam algumas garotas; elas tinham ouvido sobre a chegada dos psíquicos,
e correram para perguntar as novidades antes das aulas começarem.
Não é como se eu não entendesse o que sentiam…
Então expliquei a situação para elas. Ontem foi
só a preparação para a investigação; a investigação oficial ia começar hoje,
qualquer exorcismo só ocorreria depois disso.
Depois de me livrar do grupo de garotas
insatisfeitas, eu mergulhei debaixo dos lençóis mais uma vez.
Eu estava quase dormindo, quando alguém bateu na
porta.
Eram os cinco grupos de estudantes que vimos no
dia anterior. Graças a eles, Ayako e eu estávamos bem e verdadeiramente
despertas.
A série de eventos inoportunos não parou por aí.
Quando fui até o equipamento que montamos ontem,
para retirar a informação coletada, havia uma grande multidão de pessoas reunidas
ao redor. Eles me agarraram e eu fui interrogada. Como isso atrapalharia nossa
investigação, eles deveriam manter as mãos longe do equipamento – ele precisa
ser manuseado com cuidado. Não há trabalho mais difícil que esse.
Além disso, no meio da multidão uniformizada,
nós, forasteiros, éramos muito mais visíveis. Quando andássemos por ali
checando o equipamento, seriamos parados por estudantes curiosos.
Todos eles queriam saber até o menor
desenvolvimento. Como Yasuhara tinha dito, todos na escola se estavam agitados.
Notoriamente, havia lugares vazios nas classes. Os lugares pertenciam aos
estudantes que estavam doentes por causa da estação, e a estudantes que estavam
receosos de frequentar a escola. A escola estava completamente sem vida. Os estudantes
se juntavam em pequenos grupos, e falavam baixo, como se estivessem num funeral.
E, teríamos sorte de ser interpelados pelos
estudantes. A verdadeira desgraça era ser flagrado por Matsuyama. Se éramos
vistos por Matsuyama, ele fazia comentários sarcásticos. Ele diria um monte de
palavras que fariam minhas veias entrarem em erupção, e ia embora com uma
expressão de satisfação. Hn. Bastardo.
Depois naquela tarde, Masako, que veio com John
no terceiro grupo, foi a mais insatisfatória última gota.
Quando John e Masako chegaram, era por volta de
três da tarde.
John Brown, 19 anos, é um exorcista que nasceu na
Austrália. Infelizmente ele aprendeu seu japonês em Kansai, e inadvertidamente
se torna alvo de zombaria. Pessoalmente, ele é muito bom, o fato de ser um
psíquico é uma vergonha pequena (?).
Hara Masako, 16 anos, é uma médium espírita. Ela
tem trabalhado ativamente como uma médium desde a sua infância, e é uma
personalidade famosa, que aparece na televisão. Embora eu quisesse comentar
outros aspectos dela, vou deixar pra lá agora. Ela é, de acordo com Naru, muito
poderosa aparentemente.
Depois que os pares terem chegado à base e sido
apresentados a Yasuhara, que chegou para ajudar depois das aulas, Naru explicou
a situação. Eu estava no canto organizando os relatórios coletados no dia
anterior e checando os dados coletados por Lin-san na noite anterior.
Primeiro Naru perguntou à Masako, “Hara-san, qual
é o estado da escola?”
Masako parecia melancólica. Parecia não ter
palavras, ela estava hesitante por um momento. Com o encorajamento de Naru, ela
finalmente falou.
“Eu não estou… Totalmente certa.” Ela soltou a
bomba.
Num piscar de olhos nós começamos a reclamar.
“Não pode ser, Masako, isso de novo?”
Masako ignorou as palavras do monge.
“Não é como se eu não pudesse ver nada. Posso
sentir a presença deles.”
Parecendo preocupado, o monge protegeu sua cabeça
com as mãos. Ayako e John sacudiram a cabeça, eles estavam sem idéias. Então a
expressão de Naru se tornou séria.
Em outras palavras, dessa vez não podemos contar
com Masako.
Me deixou um pouco sobressaltada.
Aparentemente, é preciso ter algum talento para ver
espíritos. Com espíritos fortes com objetivos claros, há registros que até
pessoas sem talento podem vê-los. Mas, para espíritos normais, que existem em
silêncio, seria necessário um talento especial para vê-los.
De todos os membros reunidos aqui, só Masako tem
esse tipo de habilidade. Isso quer dizer que se não podemos contar com Masako,
estamos tão bem como cegos. Isso era realmente preocupante.
“… e essas presenças que você pode sentir?”
Quando um aparente Naru muito frustrado disse
isso, Masako mostrou uma expressão contrariada.
“Normalmente os espíritos podem ser vistos
claramente, mas aqui… É como olhar uma televisão com o canal mal sintonizado. Tem
muita estática misturada… Entendem o que quero dizer?”
En, Não totalmente.
“Posso sentir a presença dos espíritos, e são
muitos. Também sei onde estão, mas… o tipo de espíritos eles são exatamente,
não tenho certeza. Embora seja certo que alguns espíritos estão presentes.”
Masako disse isso e baixou a cabeça.
“Por mim, eu nunca fui boa em comunicação com espíritos
assustadores. Se é um espírito que tem uma conexão especial com uma pessoa ou
um local, geralmente não tenho problemas...”
O monge suspirou.
“De qualquer forma… como esses espíritos foram
invocados por meio de um jogo, espera-se que não haja uma grande conexão com a
escola ou os estudantes... E isso aconteceu de novo, Masako.”
Ele encarou Masako maliciosamente.
Masako encarou o monge.
“Esta é uma situação especial. Não como se eu não
pudesse vê-los ou senti-los de jeito nenhum!”
“Sim, sim,” o monge disse, contraindo o pescoço.
Masako franziu a sobrancelha levemente.
“Mas há um espírito particularmente mais forte
que posso sentir aqui…”
“Que tipo de espírito é esse?” Naru perguntou.
Masako estreitou os olhos, olhando para longe.
“É um espírito masculino, deve ter minha idade...”
Um homem… com idade quase igual a da Masako… Quase a minha idade…?
“Posso ver esse espírito masculino de forma
clara. Posso sentir uma emoção muito forte. Esse espírito... Talvez algo tenha
acontecido nessa escola que o deixou triste. Ele está preso na escola.”
Isso… Não é isso…
Com os olhos fechados, Masako inclinou a cabeça.
“Com certeza não está perto, mas sua presença é
forte… Acredito que seja o espírito de alguém que cometeu suicídio. E não
aconteceu há muito tempo.”
É o Sakauchi-kun… Em outras palavras, ele está
atualmente assombrando a escola…
Minha cabeça ficou calma de forma agradável.
O sonho da noite passada. O garoto no telhado. Aquela
pessoa… Quem era ele?
Naru abriu seu caderno de anotações e puxou um
recorte de jornal.
“Aquele espírito, é esta pessoa?”
Masako pegou o recorte de jornal e olhou. Coincidentemente
Masako estava em pé perto de mim, e eu pude ver o conteúdo do papel ao esticar
o pescoço. Era um artigo sobre um estudante do primeiro ano que cometeu
suicídio numa certa escola. Havia uma fotografia do estudante no recorte.
De repente, me senti fraca. Aquele era… A
fotografia era…
Masako assentiu.
“É essa pessoa. Então seu nome era Sakauchi…”
Naru pegou o recorte de jornal de Masako, o
devolve a seu lugar de origem e disse, “Essa… Raiva da escola… É real.”
Naru parecia murmurar para si mesmo. Depois se
virou para Lin-san imediatamente, “Lin, qual foi a situação ontem à noite?”
O mencionado Lin-san tirou seus fones de ouvido.
“Há alguns lugares em que a temperatura estava
anormal. 3-1, 2-4 e a sala LL tiverem temperaturas especialmente baixas.”
3-1 era a sala de Yasuhara, onde o envenenamento
em massa acontecera.
2-4 era a sala em que o cachorro preto aparecera.
“Não há nada anormal com os visuais; os
microfones registraram sons em três locais. Diferentemente, eles são a Sala de
Preparações Artística, a sala 2-4 e o Depósito do Ginásio.”
Naru deu um golpe na mesa.
“Então é assim, tivemos uma resposta logo no
primeiro dia.”
Quando foi aquele incidente… Naru tinha dito “Espíritos
são muito tímidos.” Espíritos não gostam de intrusos. Se há intrusos, eles vão
se esconder temporariamente.
Entretanto tivemos uma resposta no primeiro dia.
Se este era o caso, então…
Naru passou os olhos por todos nós.
“Façam exorcismos nos cinco lugares mencionados
para começar. Hara-san, por favor, ande pela escola e cheque os locais onde há
espíritos. Matsuzaki-san, por favor acompanhe Hara-san, e conduza exorcismos
com o melhor de sua habilidade.”
“Ok.”
Ayako e Masako se levantaram. Naru chamou Ayako, dizendo,
“Será melhor se você não se sentir superior aos espíritos deste lugar; por
favor, seja mais cuidadosa.
“Mai vai continuar observando daqui, e
administrar as comunicações. O monge e John,” Naru olhou para os dois quando
disse isso.
“Primeiro vão aos cinco lugares em que houve
atividade na noite passada e conduzam exorcismos lá. Depois vão aos locais que
Hara-san indicar.”
“Claro.”
“Sim.”
Os dois responderam e saíram de seus lugares.
“Lin e eu vamos continuar investigando lugares
suspeitos. Yasuhara-kun, por favor, nos ajude. Mai,”
“Sim!”
Em resposta a minha atitude entusiasmada, Naru me
olhou friamente.
“Não fique com preguiça e caia no sono.”
Sim~